quarta-feira, 26 de agosto de 2009

RELIGIÃO FAZ BEM À SAÚDE

O neurocientista americano Andrew Newberg defende que orar e meditar podem trazer benefícios à saúde

LETÍCIA SORG

Em seu novo livro How God changes the brain (Como Deus muda o cérebro), que será lançado no dia 24 nos Estados Unidos, o neurocientista Andrew Newberg, professor da Universidade de Pensilvânia, fala sobre o aspecto positivo da oração e da meditação na melhoria da memória, na diminuição da ansiedade e da depressão. Nesta entrevista a ÉPOCA, ele explica a base científica para as suas afirmações e diz que nenhuma religião é melhor do que outra: o importante é praticar a fé sem intolerância ou radicalismos.

ÉPOCA - Em que o seu livro, Como Deus muda o seu cérebro, avançou em relação ao conhecimento neurológico que temos sobre a religião? Andrew Newberg - Em estudos anteriores, tínhamos ideia de como a religião mexia com o cérebro em curto prazo. Neste novo livro, tentamos entender os efeitos de longo prazo da fé. O que acontecerá com você, por exemplo, se começar a meditar e adotar a prática por meses ou mesmo anos? Um dos estudos que fizemos, por exemplo, fala sobre como a meditação ajuda a melhorar a memória e, ao que parece, consegue esse efeito alterando a estrutura cerebral relacionada à memória. Uma de nossas pesquisas mostrou até que a área do cérebro ficou mais espessa e maior com a prática da meditação ao longo de um período. Uma parte muito significativa do livro é sobre como podemos usar essas experiências para tirar um proveito, a longo prazo, para o cérebro. Falamos sobre investir tempo em algumas práticas, seja de maneira religiosa ou não, em algumas formas de meditação para melhorar a memória, a aprendizagem, a ansiedade, a depressão. Também desenvolvemos um tipo novo de meditação em que você se concentra em um tipo de diálogo. Você, de certa forma, fala com alguém em um estado de meditação, e descobrimos que isso ajuda as pessoas a criar intimidade, a interagir com as outras e a se comunicar com quem ela conhece ou não.

ÉPOCA - De que maneira a meditação e a oração podem ajudar a melhorar a memória e os níveis de estresse e ansiedade?
Newberg - Os nossos estudos usando imagens do cérebro mostram que, no longo prazo, há alterações no lobo frontal (relacionado à memória e à regulação das emoções) e no sistema límbico (ligado às emoções). As pessoas tendem a conseguir controlar mais suas emoções, expressá-las, senti-las. A meditação e a oração ajuda a melhorar a sua relação consigo mesmo e com os outros. Também especulamos que essas práticas alteram, inclusive, a química cerebral, como os níveis de serotonina e dopamina, que regulam o nosso humor, a nossa memória e o funcionamento geral de nosso corpo, mas ainda não temos provas disso.

ÉPOCA - Um estudo recente feito no Canadá mostra que as pessoas que tinham uma fé sentiam menos ansiedade depois de cometer um erro do que aquelas que não acreditavam em Deus. Isso quer dizer que a religião pode ser boa para a vida das pessoas?
Newberg - Há vários estudos que mostram como a religião pode ajudar a melhorar a saúde mental e até mesmo física. Mas, como dizemos no livro, é preciso prestar atenção para não pegar o lado negativo da religião. Em alguns casos, a religião pode ser ruim. Ela pode deixar as pessoas muito nervosas, bravas, até mais ansiosas – se elas sentirem que estão lutando para entender Deus e pensarem que Ele as está punindo. Queremos que o nosso livro, com suas práticas, ajude a fomentar o lado positivo da religião.

ÉPOCA - É por isso que o senhor diz que o fundamentalismo religioso pode causar danos ao cérebro?
Newberg - Não se trata da religião em si, mas da postura com relação à religião. Ficar com raiva, não tolerar a crença de outras pessoas, excluí-las, querer machucá-las por causa de uma outra religião, pode ser negativo e trazer problemas. Mas, na maioria dos casos, a religião pode ser muito benéfica e ajudar as pessoas a viverem suas vidas.

ÉPOCA - Há um estudo em andamento na Universidade do Texas sobre a possibilidade de a religião ajudar na cura de viciados em drogas. O senhor acha que isso é possível?
Newberg - Certamente há evidências que comprovam isso. A questão é: como isso acontece? A religião substitui o vício ou o suprime para que a pessoa possa ir atrás de objetivos que não sejam as drogas?

ÉPOCA - Há um consenso entre os cientistas sobre como a crença religiosa pode ajudá-los a ser saudável? Newberg - Muitos cientistas acreditam que a espiritualidade tem um papel na saúde. A pergunta é quem vai administrar isso e como os profissionais de saúde vão lidar com a espiritualidade de uma maneira apropriada e benéfica. Essas são as questões que ainda não foram respondidas.