segunda-feira, 20 de abril de 2009

COMO NA INFÂNCIA APRENDI O OITAVO E NONO MANDAMENTO

Quando se anda duas horas a pé da minha cidade natal, conta um senhor idoso, chega-se ao lago Oriental. Na praia há aqui e acolá uma aldeia de pescadores. Quando chegava o verão, os pescadores caiavam as paredes de suas casas com cal limpo, alugavam as acomodações vazias, e deixavam os veranistas acomodar-se confortavelmente. Eles mesmos mudavam-se para o curral, e deixavam suas vacas dia e noite no pasto.

Numa destas aldeias, também nossa mãe um dia alugou um quartinho. Ela estava com a saúde debilitada, e queria se fortalecer com um tratamento.

Foi então uma grande alegria, quando uma noite nós dois irmãos mais velhos – eu tinha 12 anos nessa ocasião – fomos mandados bem cedo para a cama, porque na manhã seguinte, para visitar a mamãe, teríamos que levantar bem cedo e irmos com papai até a cidade e de lá de canoa remarmos até a próxima aldeia.

Chegamos realmente muito cedo. Quando entramos na propriedade onde minha mãe morava, e passamos por um canteiro de cenouras no quintal, meu pai disse: "Estas cenouras não nos pertencem". Nós ouvimos bem estas palavras, enquanto nos lançamos impetuosamente ao quarto da mãe para cumprimentá-la.

Mas ainda teríamos uma hora de tempo antes de irmos juntos à igreja. Durante tanto tempo era impossível ficarmos no quarto. Depois de enfeitarmos a canoa com ramas verdes, ainda havia tempo de sobra para olharmos a horta. O que me atraía ao canteiro de cenouras que nem nos pertenciam? Sim o quê? Sim o que atraia Eva à árvore proibida? "A cobra me enganou, e eu comi." Não, eu não comi só puxei uma cenoura para fora, quando estava sozinho. No mesmo instante ouvi como a porta se abriu. Passos se aproximaram, depressa enfiei a cenoura debaixo de meu casaco (jaqueta) e o abotoei. Exatamente, era o pai. - Diante de meu Pai celeste eu não teria medo, que tudo vê e sabe. - Eu me aproximei dele com uma cara, como se nada tivesse acontecido. Mas, que azar! A verde rama da cenoura aparecia debaixo de meu casaco.

"Menino de onde você tirou esta cenoura?" perguntou ele. "Hugo me deu". Hugo era um colega de escola que igualmente veio visitar sua mãe. Meu pai nem precisou primeiro perguntar a meu amigo, porque ele me havia observado da janela, e sabia que eu só era o malfeitor.

"Vá imediatamente à dona da casa levar a cenoura roubada, e depois vá ao quarto. Nós vamos conversar lã."

Calado eu obedeci. E da mesma janela da qual meu pai me observou eu vi o que ele fazia na horta.

Ele perguntou à hospedeira se lhe permitia cortar uma vara de salgueiro (Chorão). Com muita calma ela foi podada para uma boa vara de disciplina. Depois ele entrou. Sem dizer palavra pegou-me pelo colarinho, deitou-me sobre o joelho e bateu pra valer. Em cada varada ele dizia: "Não furtarás." Quantas vezes? Não sei mais, mas pelo menos umas dez vezes. Depois me soltou, e perguntou. "Como diz o oitavo mandamento?" Eu pensei que estava terminado o penoso castigo. Mas eu estava enganado. Meu pai que havia posto a vara sobre a mesa e se sentado, levantou-se vagarosamente, e buscou de novo e disse: "Agora vem o nono mandamento". Eu não só havia roubado mas também mentido, e o nono mandamento me foi inculcado do mesmo modo, só que as varadas eram mais abundantes e mais fortes. E meu pai repetia: "O que se roubou pode-se devolver; mas o que se mentiu fica mentido eternamente".

Também com isto o castigo não estava terminado. Quando havíamos voltado da igreja na hora do almoço, e sentamos para comer, num canto havia uma pequena mesa só para mim, sobre o qual havia só um prato de cenouras, as quais eu tive que comer. Este era o dia pelo qual me alegrara tanto.

Depois da refeição íamos fazer um passeio pela praia, mas eu não pude ir, mas tive que decorar a história como Jesus aos doze anos foi ao templo. Quando todos voltaram, segui à lei ao Evangelho. Meu pai falou-me impressivamente sobre Jesus. Alguma coisa disso ficou especialmente gravado em minha mente: Pois ele me perguntou entre outras coisas:

"Quando Maria e José naquela páscoa sentiram falta de seu filho de 12 anos, eles o acharam junto a Seu Pai celestial. Quando eu procurei meu filho de 12 anos, eu o achei junto a Satanás, o qual é um ladrão e mentiroso desde o princípio. Meu filho porque você nos fez isto?"

Hoje sou grato a meu pai de todo coração pelo amor e bondade demonstrados a mim naquele dia e que me ensinou cabalmente a guardar o oitavo e nono mandamentos e no mesmo dia ainda me levou a Jesus. Esta "experiência dolorosa", no verdadeiro sentido da palavra, me mostraram nitidamente, a estreita relação entre lei e Evangelho. O conhecimento do pecado, alcançado através da lei, me mostraram a estreita ligação entre lei e Evangelho. O conhecimento do pecado que nos vem através da lei, nos mostra a separação de Deus e desperta em nós o desejo de libertação e salvação, preparando assim o terreno do coração para o Evangelho.


(Tempos felizes, Ana Maria Schmidt)

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